sábado, 24 de outubro de 2009

No Brasil, o vestibular é justo?


Alguns países democratizaram o ensino médio há cerca de 100 anos e, aos poucos fizeram o mesmo com o ensino superior. Os Estados Unidos, o Canadá e a Coréia do Sul levam em média 80% de sua população à universidade, logo, conclui-se, que nesses Estados, o vestibular não é excludente, pois tem o papel de localizar o estudante na universidade que melhor desenvolveria suas habilidades.
A sociedade ameicana trilhou, nessa área, um caminho que vale a pena estudar: não só construiu as melhores instituições de ensino superior do mundo, mas também as que abrigam um número espantoso de alunos, que lá aprendem e produzem conhecimento de ponta. Não é exatamente preciso que esse modelo seja exportado e copiado, em todas as nações "deficientes" e, sim, constatar os efeitos positivos desse sistema para a sociedade global.
No entanto, é bom considerar a pluralidade - nem todo estudante americano frequenta as chamadas Ivy Leagues, onde só estuda a elite intelectual, egressa de qualquer estrato social, identificada através de um exame nacional seriado, que acontece ao longo do ensino médio. Mas não é por isso que um conjunto grande de alunos não terá um lugar no ensino superior. Há uma multiplicidade de tipos de universidade que formam de médicos a tratoristas, passando por pedreiros, encanadores, esteticistas, motoristas de táxi, nos frequentados Community Colleges, onde, aliás, estão 50% dos universitários americanos. É claro que há outros valores noutras nações e culturas e, nesse ponto, entram as adaptações e a criatividade de cada povo. Mas qual é a função do vestibular nesse sistema? Introduzir o aluno numa universidade, para que seus talentos sejam desenvolvidos e aproveitados socialmente, porque o Estado disponibiliza vagas para a maioria e o exame segue as regras desse jogo.
Exemplo não presente no Brasil, um dos países mais excludentes do mundo, onde a injustiça se sobrepõe ao frágil sistema educacional, cujos modelos disponibilzam um número ínfimo de vagas e baseiam-se em grade curricular, carga horária e didática, de modo a formar dois grupos de profissionais - o mais capaz e o menos - mais tarde um número significativo de desempregados.
Nosso vestibular é frequentemente acusado de injusto e excludente, o que é fato. Consideramo-lo a ponta do "iceberg" de nossa lógica política. Diante disso, é necessário, sobretudo, encarar as disparidades e as contradições e implementar iniciativas promovedoras de mudanças gerenciais, no sistema educacional, em geral, como: democratizar a qualidade do ensino fundamental; quebrar a lógica da reprovação; incluir a pluralidade com suas necessidades especiais; capacitar os professores e valorizá-los, para que se sintam parte de um projeto social; repensar o ensino médio, a fim de prepará-lo para adversidade que o alcançará; flexibilizar o acesso à graduação e  priorizar o essencial e descartar o desnecessário. Façamos da nossa desmedida injustiça, um impulso para buscar novos caminhos, orientados por outra bússola: a da maioria.

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