terça-feira, 8 de dezembro de 2009

HOMENAGEM À GRANDE POETISA PORTUGUESA: FLORBELA ESPANCA


      FLORBELA ESPANCA

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, bonita cidade do Alentejo, a 8 de Dezembro de 1894 e decidiu por término à sua vida, curta em duração, mas grande em produção literária, no ano de 1930, no dia do seu aniversário natalício.

A obra de Florbela é a expressão poética de um caso humano. Decerto para infelicidade da sua vida terrena, mas glória de seu nome e glória da poesia portuguesa. Florbela viveu a fundo esses estados quer de depressão, quer de exaltação, quer de concentração em si mesma, quer de dispersão em tudo, que na sua poesia atinge tão vibrante expressão. Mulheres com talento vocabular e métrico para talharem um soneto como quem talha um vestido; ou bordarem imagens como quem borda missanga. Florbela viveu tão a sério um caso tão excepcional e, ao mesmo tempo, tão significativamente humano e tão expressivamente feminino.

A sua vida de trinta e seis anos foi tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.
Autora de contos, artigos na imprensa, traduções, epístolas e um diário, Florbela Espanca antes de tudo foi poetisa. É à sua poesia, quase sempre em forma de soneto, que ela deve a fama e o reconhecimento. A temática abordada é principalmente amorosa. O que preocupava mais a autora era o amor e os ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. A sua obra abrange também poemas de sentido patriótico, inclusive alguns em que é visível o seu patriotismo local: o soneto “No meu Alentejo” é uma glorificação da terra natal da autora.

A obra da Florbela estimulou um movimento de emancipação literária da mulher, exprimindo nos seus acentos mais patéticos a imensa frustração feminina das opressivas tradições patriarcais.
A interlocução com o universo masculino e o exercício permanente do amor imprimem a tal obra uma continuada verrumagem acerca da condição feminina, que vasculha os ritos sociais, os jogos de sedução, os interditos, os privilégios - a maldição. Nessa rota, assenhorando-se do estatuto tradicional da mulher para pô-lo em causa, Florbela acaba retirando dele um corolário que o torna ativo, visto que redimensionado em bem literário.


E eis que o infortúnio, tomado na acepção de prerrogativa feminina, se converte, por seu turno, numa estética em que a dor é a matéria-prima, capaz de criar, apurar e transfigurar o mundo - única e verdadeira senda de conhecimento reservada à mulher.
Florbela consegue, através dos seus poemas, o prodígio de transmutar a histórica inatividade social da mulher em genuína força produtiva. Apenas um dos seus muitos dons.

LIVRO DAS MÁGOAS (1919):
SONETO - A minha tragédia

Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que minh'alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!


Ó minha vã, inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!...


Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!


Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...
                    (Florbela Espanca)

SONETO - Amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!


Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!


E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
                    (Floberla Espanca)

LIVRO DE SÓROR SAUDADE (1923):

SONETO - Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!


Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!


Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...


E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
                         (Florbela Espanca)

LIVRO CHARNECA EM FLOR (1930):

SONETO - Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!


É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
              (Florbela Espanca)



“Florbela é a flor maior da poesia romântica,
é o sofrimento em versos de um soneto
é o amanhecer mais belo de um encanto
é aquela que se perdeu pra se encontrar.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário