sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O poder do perdão


FAZER AS PAZES COM QUEM NOS MAGOOU E COM NÓS MESMOS É O SEGREDO PARA O EQUILÍBRIO INTERIOR
Quando surgiu esse tema em minha mente, pensei: E se eu fizesse sobre "O valor da vingança"? Eu me lembraria de mais exemplos...
Como canta Elton John, o perdão parece ser um dos conceitos mais difíceis de se pôr em prática. Além disso, é uma palavra mal-entendida.
Muitas vezes não perdoamos porque acreditamos que o perdão  contribui para a injustiça. Quem causa danos não merecem perdão, pensamos. Se perdoarmos, voltarão nos ferir, vão se aproveitar da "nossa nobreza". Às vezes, o desgosto com os prejuízos e as ofensas não se reduz nem com o passar do tempo. Podemos ficar enfurecidos com nossos pais pelos erros cometidos durante a nossa infância, com quem já abusou da nossa boa fé. com aquela tia que nos chamou de "gorda" (ou assim deu a entender). NÃO PERDOAMOS NINGUÉM. NEM SEQUER A NÓS MESMOS. Guardamos a ferida dentro da alma como um tesouro precioso, para tirá-la da memória de vez em quando e fitá-la, absortos, como se fosse um álbum de fotografias, uma jóia na vitrine. Nesse momento, passamos outra vez pela mente o filme triste do episódio imperdoável e o revivemos. O desgosto com o passado se alimenta de grandes porções do presente. Eis aí o rancor.
Mas, na verdade, por que valeria a pena perdoar? Só uma questão religiosa, por puro altruísmo? Em um mundo tão absolutamente cruel em tantas ocasiões, há alguma questão que seja impossível de desculpar?
Os problemas não solucionados são como aviões que voam dias e semanas sem parar e sem pousar, consumindo recursos que podem ser necessários em caso de emergência. Os aviões do rancor se convertem em fonte de estresse. Perdoar é a tranquilidade que se sente quando os aviões pousam. Perdão não é aceitar a crueldade, esquecer que algo doloroso aconteceu nem aceitar o mau comportamento. Ao perdoar,admitimos que nada se pode fazer pelo passado e, isso permite que nos libertemos dele. Perdoar ajuda os aviões a pousar para que sejam feitos os ajustes necessários. Mas e, se a agressão tiver sido grave demais? Li uma repotagem sobre Kim Phuc e me suspreendi com a lição.
Era 8 de novembro de 1972, durante a guerra do Vietnã. A família Kim Phuc tentou proteger-se num templo próximo quando ouviu o barulho dos aviões americanos. Mas o refúgio não foi suficiente contra as bombas de napalm que caíam do céu e, tudo explodiu em chamas. Nick Ut, correspondente da agência de notícias Associated Press, tirou nesse momento a foto tristemente famosa que percorreu o mundo todo. Ali estava Kim, aos 9 anos, nua e em prantos, com grande parte do corpo coberta de queimaduras de 3º grau. Apesar disso, a menina sobreviveu. Passou por 17 cirurgias e, depois de ser usada durante anos como símbolo de resistência do seu país, pediu asilo no Canadá. Mas o notável de sua história é que Kim perdoou o capitão John  Plummer, oficial que ordenou o bombardeio de sua aldeia. Kim conta à jornalista Ima Sanchís que, ao encontrar-se com o militar num evento, não o esbofeteou; preferiu abraçá-lo: "A guerra faz com que todos sejamos vítimas. Eu, quando menina, fui vítima, mas ele, que fazia seu trabalho de soldado, também foi. Tenho dores físicas, mas ele tem dores emocionais, que são piores do que as minhas." Mas qual o segredo de agir com tanta integridade? O perdão é um dos ingredientes necessários.
Sem o perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade. Também não conseguimos ser mais flexíveis. Algumas pessoas "cozinham" a dor em fogo brando para mostrar ao mundo como foram maltratadas e, não querem perceber que assim se prejudicam. Ao mundo, não interessa à dor antiga, só o que somos capazes de fazer e dar agora. Quando nos apegamos à dor antiga, a autocomiseração embota a capacidade de dar e, quando assumimos o papel de mártires, ficamos à espera de que alguém resolva milagrosamente a nossa vida.
O perdão nos ajuda a reconhecer que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita. Além da saúde espiritual, existem várias provas de que deixar para trás a hostilidade protege a saúde física. E não é uma metáfora nem "modo de dizer". Estudos comprovam que quanto maior a capacidade de perdoar, menos problemas nas artérias coronárias e sistema imunológico.
Os benefíios do perdão (tanto os que protegem o corpo quanto os que aliviam e limpam a alma) não se aplicam só aos outros, mas também a nós mesmos, quando, apesar do erros e culpas, somos capazes de nos perdoar e deixar de nos sentir merecedores de castigo. Perdoar não é esquecer nem persistir no erro. É começar de novo, com a experiência adquirida, sem os rancores a sobrevoar e confundir as possibiladades do presente.
Assim como o amor, o perdão não é algo que se "dê" ao outro, mas um presente vital que damos a nós mesmos. 

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